Inglês fluente e o nome da faculdade deixam de ser requisitos. Mudança exige identificar áreas possíveis de serem ocupadas sem o diploma. Entenda
“As empresas estão flexibilizando mais os seus requisitos para trazerem contratações mais plurais e diversas”, diz Paula Esteves, Co-CEO da Cia de Talentos, que atua no desenvolvimento de profissionais, além de recrutar jovens para processos de estágio e trainee. O primeiro sinal de que as exigências estão começando a cair, segundo ela, foi quando muitas empresas deixaram de exigir o inglês fluente. Ela conta também que houve uma redução do número de empresas que baseiam a seleção no nome da faculdade do candidato.
Além disso, ainda de acordo com a executiva, os contratantes estão entendendo que existe uma amplitude de cursos que podem ser considerados para uma vaga. “Antes você só contratava psicólogos para trabalhar em recursos humanos”, por exemplo.
No momento em que o profissional vem com a formação técnica e o repertório necessários para performar na área, a graduação deixa de ser obrigatória e “pode ser colocada como desejável”, avalia Esteves.
Quando a formação superior é exigida em um cargo, dois terços dos trabalhadores selecionáveis são eliminados. Esses dados foram coletados nos Estados Unidos e fazem parte de um relatório do Census Bureau de 2023. O público mais afetado pelo pré-requisito são trabalhadores negros e hispânicos.
O número de anúncios de emprego que deixaram de exigir ensino superior aumentou quatro vezes na última década, entretanto, a cada 100 vagas com esse perfil, apenas quatro candidatos sem diploma foram efetivamente contratados, de acordo com um estudo realizado pela Harvard Business Review. Os números levantados revelam o desalinho da divulgação das oportunidades com as práticas de recrutamento.
Camila Pignatari, diretora de gestão de pessoas na Care Plus, diz que a contratação por habilidade é uma realidade na operadora de saúde. Desde 2022, a graduação não é mais um requisito obrigatório para assistentes, analistas juniores e plenos. Cargos de alta liderança, entretanto, costumam requerer habilidades específicas geralmente adquiridas em cursos superiores.
Em 2023, 65,2% das pessoas de 18 a 24 anos não frequentavam escola e não concluíram o nível superior no Brasil
Ainda de acordo com Pignatari, “as empresas devem ser mais realistas quanto aos requisitos para processos seletivos”. Não obstante, considerando o contexto socioeconômico brasileiro, as corporações podem fomentar a capacitação dos seus colaboradores ampliando oportunidades de crescimento através de cursos e treinamentos.
O ponto de partida para deixar de exigir formação superior para um cargo é estudar e identificar as áreas possíveis de serem ocupadas sem o diploma. É muito fácil você ver se a pessoa consegue programar, por exemplo, se ela conseguir entregar um código, diz Esteves, Co-CEO da Cia de Talentos.
“As pessoas querem estudar. São poucas formadas porque não têm opção, nem condição”, avalia Paula Esteves, ressaltando o aumento do número de pessoas “mais velhas” entrando no ensino superior a distância.
Em 2023, 65,2% das pessoas de 18 a 24 anos não frequentavam escola e não concluíram o nível superior, constatou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE. O percentual de jovens com acesso ao ensino superior foi de 21,6%. “Você tem aí 80% das pessoas que não tem acesso ao ensino superior, eles precisam trabalhar e essa é a realidade do Brasil”, complementa Esteves.
“A formação universitária tem muito valor. Não só no aspecto técnico mas também no desenvolvimento de outras competências (soft skills)”. As vivências do ambiente universitário promovem aprendizados como o trabalho em equipe, além de várias outras questões que são importantes para a formação de uma pessoa. “Então a gente incentiva o acesso à universidade.”, finaliza a executiva.
Matéria original publicada no Valor Ecônomico, leia na íntegra aqui.