Ao atuar em diferentes organizações, profissionais entregam visões de negócios diversas e ajudam a formar parcerias

 

A conselheira Jandaraci Araújo diz não ser cabível atuar em concorrentes diretos — Foto: Gabriel Reis/Valor

 

Conselheiros “múltiplos” ou que participam de colegiados em várias empresas estão mais comuns no mercado. De acordo com especialistas, a presença dos executivos em “boards” diferentes pode trazer vantagens para as operações, como a entrega de visões de negócios mais diversas, conexões que ajudam na costura de parcerias estratégicas e conhecimentos sobre outros setores que podem ser aplicados nas companhias que orientam.

O conselheiro pode “transportar” aprendizados entre as organizações, diz Luiz Martha, diretor de conhecimento e impacto do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Isso inclui boas práticas de governança e informações de mercado que não sejam confidenciais”, afirma. “O profissional pode estar, por exemplo, em um conselho que adota avaliações de desempenho e ajuda a levar essa rotina para um grupo que não faz.”

Na opinião de Jandaraci Araújo, conselheira de administração e cofundadora do Instituto Conselheira 101, programa de incentivo à diversidade nos colegiados, a presença em mais de um comitê é benéfica para a gestão, mas devem-se tomar alguns cuidados.

A participação em vários comitês traz vantagens para as companhias, como a variedade de perspectivas, além de enriquecer os processos de tomada de decisões, explica. “Mas é importante que as companhias considerem os desafios associados aos conselheiros múltiplos, como a limitação de tempo para o trabalho e conflitos de interesse. Não é cabível um conselheiro atuar com concorrentes diretos.”

De acordo com a especialista, está crescendo o número de conselheiros “multitarefa”. “Das 105 formadas no Conselheira 101 desde 2020, 49% estão no mercado e, dessa parcela, aproximadamente 10% pertencem a mais de um conselho”, revela.

Araújo, aos 51 anos, é conselheira desde 2019. Tem assentos em cinco organizações: na Future Carbon, do mercado de carbono; na Kunumi, de inteligência artificial; no Instituto Inhotim, do setor de arte e cultura; e na Motriz, de educação pública – também atua no conselho fiscal da mineradora Vale como suplente. “Cada conselho tem, em média, de cinco a seis reuniões por ano”, explica a administradora de empresas. Antes das reuniões, ela separa de quatro a oito horas por dia para estudar os dados das operações. “A rotina também envolve encontros com o C-level das companhias, novos planos de atuação e um almoço ou café de networking.”

Christiane Aché, diretora do Advanced Boardroom Program for Women (ABP-W) da Saint Paul Escola de Negócios, curso de 300 horas que desenvolve competências técnicas e comportamentais para conselheiras e futuras conselheiras, diz que o código de melhores práticas de governança do IBGC não crava uma limitação sobre o número máximo de colegiados que um profissional pode participar. “No entanto, o documento destaca a importância de ter tempo e dedicação suficientes para cumprir com todas as responsabilidades”, pontua.

Matéria original publicada no Valor Ecônomico, acesse na íntegra aqui.

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