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Diante de uma nova oferta de trabalho, é comum surgirem dúvidas e angústias em relação a tomada de decisão, principalmente se o candidato já estiver empregado ou diante de outra proposta concomitantemente.

De acordo com o Modelo Decisório Racional da Economia Clássica seria muito simples resolver esta questão: qual empresa paga mais? Então é pra lá que eu vou!

Mas, as coisas não são simples assim, e se você sofreu ou está sofrendo para tomar uma decisão similar a esta, saiba que você não está sozinho! Qualquer pessoa nos seus calçados tende a se sentir assim desta mesma forma, e este fato se dá, porque esta situação de escolha e decisão descrita acima se enquadra dentro da teoria da “racionalidade limitada” de Herbert Simon.

Cabe ressaltar que Simon ganhou o Nobel em economia justamente por ajudar a economia a romper com o modelo tradicional da teoria da oferta e demanda para a complexidade do mundo real da psicologia e da ciência comportamental.

Sua teoria parte do pressuposto de que é impossível fisicamente ao indivíduo acessar e processar todas as informações possíveis, além do elevado custo que envolveria esse processo. Esse modelo defende, ainda, que a impossibilidade está na capacidade limitada do processo cognitivo do ser humano e também na impossibilidade do cérebro em processar todas as informações.

O conceito de racionalidade limitada (Bounded Rationality) abriga ainda outras limitações do processo cognitivo que “são os aspectos subjetivos, relacionados às experiências anteriores dos tomadores de decisão e às suas crenças”. A respeito de outras influências que atuam sobre o tomador da decisão também são enumerados os interesses políticos e sociais, fatores psicológicos e emocionais, além de pressões afetivas e diferentes motivações.

Além da limitação cognitiva da mente individual, tem outras duas dimensões que também influenciarão este processo, a informação disponível, bem como o tempo disponível para a tomada de decisão.

Posto isso, vale lembrar que todo movimento de carreira é delicado, por isso além de considerar fatores triviais como a posição, remuneração, o porte e a reputação da empresa contratante, abaixo destaco mais alguns pontos importantes que na teoria de Simon seriam tratados como “informações disponíveis” e que certamente vale a pena considerar para apoiar sua decisão rumo a um reposicionamento sustentável:

Tecnicidade:

Você entrega o que a oportunidade demanda tecnicamente? Está absolutamente seguro que os conhecimentos técnicos e especializados requeridos na nova função são amplamente dominados por você? Como diz o jargão de mercado: “estará pronto pra entrar jogando?” E mesmo que você tenha equipes altamente especializadas em temas que você não tem domínio, se sente seguro para fazer a gestão destes times?

Comportamento:

Qual o comportamento esperado desta pessoa que irá assumir a posição? Estão buscando alguém para redesenhar os processos, mudar a cultura do departamento ou do negócio e assim “quebrar alguns ovos” ou alguém que entre com um perfil mais de mantenedor com objetivo de manter as coisas praticamente como já vinham sendo feitas? Seu comportamento e suas atitudes estão em linha com este modelo?

Cultura:

Qual a cultura desta empresa? É uma empresa familiar? Uma multinacional americana, coreana, japonesa, alemã, uma empresa investida por um fundo? Eu me adéquo a este perfil cultural? Tenho boas referências ou já tive boas experiências com esse estilo de cultura? Normalmente este é um fator de difícil análise durante o processo seletivo, no entanto há duas formas de tentar ter mais acesso as informações sobre a cultura da empresa em questão: a primeira é analisar a forma como a empresa conduz as etapas do próprio processo seletivo, isso pode falar muito sobre o perfil cultural da companhia e a outra forma é tentar identificar dentro da sua rede de contatos pessoas que já trabalharam naquela empresa e que poderão te passar informações reais sobre os sistemas de valores compartilhados naquela organização.

Gestor:

Avaliar profundamente a pessoa que vai te liderar neste desafio é fundamental. Invariavelmente, a pessoa que vai trabalhar acima de você diretamente, terá uma influência enorme em como será esta nova empreitada. Quem já teve um bom chefe, sabe o valor que tem, assim como quem já teve um chefe ruim, também sabe o peso que tem. Portanto, busque ao máximo conhecer o seu líder durante o processo de forma genuína e analise: houve sintonia entre vocês? Parece ser um líder inspirador? Ao que tudo indica, este líder vai ajudar a impulsionar minha carreira? Faz sentido passar 08h, 10h, 12h do seu dia com essa pessoa?

Sua área X estratégia da empresa:

Este é um ponto interessante e que muitas vezes, no primeiro momento, acaba passando despercebido por muitos profissionais diante da empolgação com a nova oportunidade, com a empresa ou por tudo que já foi apresentado. Tente investigar qual o real grau de relevância que a sua área de atuação tem dentro da empresa. Quais são as diretrizes da empresa para a sua área de atuação em curto, médio e longo prazo? Sua área é estratégica dentro da companhia? Você vislumbra projetos importantes em médio e longo prazo? Sua área de atuação conta com executivos em nível de Vice Presidência ou C-level?

Momento da Empresa:

Vivemos um cenário de negócios complexo e não é incomum vermos grandes corporações passando por momentos de duras dificuldades ao passo que também temos pequenas e médias empresas vivendo momentos muito prósperos. Por isso é extremamente importante considerar qual o momento da empresa. Está em dificuldades? Está em ascensão? Vive um momento de certa estabilidade? Faz sentido minha ida neste momento? Quero encarar este desafio junto com este grupo? Será oportuno para minha carreira?

Por último, mas não menos importante: veja, ouça, sinta e perceba sua intuição!

Como vimos aqui, decisões como esta, infelizmente, não podem ser tratadas de modo absolutamente racional, portanto, após realizar todas estas considerações calmamente e criteriosamente, retire um tempo para refletir e perceber para que lado aponta a sua intuição. A voz do coração sempre encontra uma forma de se pronunciar e quanto mais energia criativa, imaginativa e de realização colocamos em nossos planos, mais facilitamos sua manifestação.

Por Gabriel Toschi de Mattos
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