Pesquisadores franceses mapearam os comportamentos dos líderes que levam até a descoberta do propósito profissional. Saiba quais são

 

Por Sandrine Fremeaux

 

Com a pandemia de covid-19 e a situação econômica cada vez mais frágil e precária que vivemos, será que ainda é relevante abordar a questão do “sentido” do nosso trabalho? Com a crise sanitária, muitas pessoas chegaram a reavaliar suas vidas e prioridades, e isso inclui a forma de enxergar o trabalho. Mais do que nunca, as pessoas desejam mais conexão e propósito. Qual papel os líderes podem ter para encontrar mais sentido no trabalho para eles mesmos e suas equipes?

Essa é a pergunta que tentamos responder junto com o Benjamin Pavageau no nosso estudo recente, onde analisamos como os líderes podem encontrar mais sentido no seu próprio trabalho e para os seus funcionários.

Entrevistamos 42 líderes para descobrir até que ponto eles exercem sua liderança e quais elementos de gestão podem contribuir para esse objetivo. Isso inclui elementos relacionados ao indivíduo (como postura moral, oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento, autonomia e reconhecimento), relacionamentos com colegas e utilidade social.

Nosso estudo mostrou que a melhor maneira para os líderes de participar de um ambiente de trabalho com propósito é refletindo sobre cada um desses elementos:

  1. A exemplaridade moral: significa que os líderes adotam comportamentos de acordo com seus valores e convidam seus colaboradores a fazer o mesmo, gerando uma busca coletiva pela excelência moral.
  2. A autoconsciência: implica que os líderes procurem uma coerência entre o que eles são, o que eles fazem e como eles são vistos.
  3. Apoio pessoal e profissional: reflete uma atenção especial ao trabalho de cada funcionário.
  4. Contribuir para o espírito comunitário e empenho no trabalho compartilhado: mostra o engajamento dos líderes numa dinâmica coletiva.
  5. Atitude positiva em relação aos indivíduos e situações: é manifestada por sinais de confiança nos outros e na existência de soluções.

 

Experiências humanizadas

A liderança é uma das atividades mais significativas e uma experiência profundamente humana. Os líderes precisam olhar com calma o processo dessa construção do sentido no trabalho e as razões pelas quais eles encontram sentido no próprio trabalho. A análise introspectiva que os convidamos a fazer, portanto, foca não apenas no que faz sentido para eles, mas também por que e como eles dão esse sentido. Essa avaliação pode ser esclarecedora para muitos líderes.

Primeiro, eles podem descobrir que o sentido não tem a ver com boas práticas nem com o fato de dar. O sentido é recebido mais do que dado ou declarado. Mais do que uma escolha afirmada ou uma simples declaração, o sentido brota da experiência da pessoa. A partir disso, os líderes podem deduzir que, para encontrar sentido em suas atividades, os colaboradores precisam de tempo. Numa época marcada por um ritmo de trabalho acelerado e uma economia de produção sem limites, eles precisam redescobrir a “arte de trabalhar”. Para isso, os líderes devem possibilitar momentos de reflexão e suspensão do frenesi das atividades para os trabalhadores terem tempo de questionar, transformar e renovar o sentido do seu trabalho.

Em segundo lugar, os líderes podem perceber que, ao dar sentido à própria atividade, eles serão mais capazes de inspirar os outros a adotar uma abordagem semelhante. Prestando atenção em como os outros membros da organização experimentam uma conexão autêntica entre seu trabalho e um propósito de vida mais amplo, os líderes podem ser mais capazes de dar sentido à própria atividade. Eles podem então descobrir que a dinâmica do sentido é baseada na relação: o sentido surge da atenção para os outros.

Será que o trabalho remoto generalizado pela crise de saúde pode facilitar a suspensão do frenesi do local de trabalho e criar uma nova dinâmica relacional do sentido no trabalho? A resposta não é necessariamente positiva. Muitos de nós não aproveitaram a ruptura que esta nova forma de trabalhar trouxe. Ao contrário, para alguns, esta nova forma de trabalhar nos obrigou a focar na realização de tarefas quantitativas, técnicas e visíveis, sem ter a possibilidade de compartilhar nossas dificuldades com os colegas. Essas novas questões só podem ser superadas quando os líderes as reconhecem e implementam ambientes de trabalho que deem espaço para o surgimento de sentido.

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